Encontros com o passado

Conforme vou ficando mais velho sou cada vez mais convidado para reuniões nostálgicas com antigos colegas do passado.

Já estive com meu pessoal de colegial, ajudei a organizar encontros da minha turma de primário e ginásio (onde, aliás, exercitei meu lado detetive e, da minha turma de 42 pessoas só não encontrei uma), do exército, da faculdade, do pessoal da igreja que freqüentei na mocidade. Além disso, de vez em quando, sou convidado para encontrar antigos colegas de trabalho de algumas empresas pelas quais passei.

De todos os grupos, o único que me dá prazer real de reencontrar (e, por isso mesmo, temos o hábito de nos encontrar a cada 3 ou 4 meses) é a turma da faculdade. Apesar de quase 25 anos de formados, ainda temos afinidades e papos que vão além das recordações. Nos demais grupos reencontrei pessoas interessantes com quem mantenho contato, são as que valem a pena, mas são poucas.

Todos os demais encontros seguiram um roteiro padrão. Com poucas variações, todas as reuniões são iguais. Os encontros são em pizzarias ou botecos. Os organizadores (que costumavam ser da turma dos mais conhecidos) chegam antes e vão saudando os colegas - e também relembrando quem é quem para os esquecidos.

A começar da aparência das pessoas que eu consegui resumir a 3 tipos : as pessoas que, impressionantemente, não mudaram nada, as que continuam iguais com 15,20 ou 30 anos a mais e as irreconhecíveis. A maioria se concentra no grupo de meninos e meninas envelhecidos, mas que mantiveram os traços - inclusive eu.

As frases de reencontro são um turbilhão de clichês. "Você continua o mesmo ! Parece que foi ontem ! Você dorme no formol ? Lembra quando você fez...?" Claro, sempre tem a tradicional : "você não lembra de mim ?" geralmente é dita pelos irreconhecíveis.

Claro que também existem as frases de bastidores. Não são ditas para a mesa toda ouvir mas, geralmente, só para o vizinho. Homens e mulheres tem repertórios diferentes nesse caso. As femininas incluem : "você viu a fulana ? aposto que ali tem, no mínimo, uns 300ml de silicone... onde será que o fulano arranjou aquela mulher ?" O lado masculino tem outro estilo : "onde foi parar aquela cabeleira, trocou por uma barriga nova ? a fulana está aí...com o marido! Brancos sim, mas pelo menos ainda tenho !"

Os assuntos comuns vão mudando de acordo com a distância em relação ao passado e a idade atual.

A primeira fase é a de relembrar as travessuras do passado, e de dar a entender que continua aprontando - uma forma de auto afirmação de eterna jventude - raramente crível. Na segunda fase o papo gira em torno dos filhos - incluindo as loas tradicionais à escola do nosso tempo que não era essa zona que é agora.

Eu ainda não cheguei nesse ponto (meus filhos são pequenos), mas minhas turmas já começam a entrar na fase 3, que é a de falar dos netos - ainda são nenês, mas já começar a pulular entre os temas. O papo também inclui a troca de receitas de medicamentos (geralmente para pressão ou colesterol) e a pergunta clássica é : "quantos miligramas ??"

A fase final terá início quando começarmos a falar dos colegas que morreram. Sei que vai chegar, mas ainda torço para que demore um pouco.

Minha turma de berçario da maternidade ainda não me encontrou, mas acho que é só uma questão de tempo.

Comentários

Anônimo disse…
Ainda não participei de nenhum encontro desses, mas morando na mesma cidade 35 anos, uma hora ou outra sempre os encontro nas mais diversas situações, seja o gerente de banco, o caixa do supermercado, a professora da escola, e meus amigos de teologia nos púlpitos de igrejas...rs.Minha alegria se resume a eles me reconhecerem e me chamarem de "Vilminha", sinal que não mudei tanto assim, ou que fui alguém muito marcante...rs.Minha memória é péssima e muitas vezes fico vermelha quando tenho que perguntar: você é quem, mesmo?
Anônimo disse…
A única turma que manifestou algum interesse em me convidar para os freqüentes encontros que eles mantém, foi o pessoal do Ginásio Vocacional, mas, até hoje, não lhes dei o prazer da minha graça, mais provavelmente devido ao fato de morar longe do local dos encontros.

Ah, o pessoal do berçário pediu para avisá-lo que o encontro é hoje à noite em uma pizzaria na Av. Pompéia, acho que é na Degas, mas não confiaria em minha memória.
Anônimo disse…
Você lembra da fulana? Pois é, morreu...
Arimar disse…
Fábio.
Parei de participar das reuniões, pois no último encontro da turma de 1960, uma coleguinha, agora com 75 anos, sugeriu, ao ver o grupo tão minguado (por motivos de óbitos), que era hora de começar a marcar encontros do outro lado.
"TÔ FORA."
Vou descobrir uma disciplina de DP que fiz bem mais tarde e participar da turma dos anos 80. Rs Rs .

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