Uma odisséia em zD1

Ano terrestre 3045, 5 de março

Rosalina estava pronta para partir. E não era uma partida qualquer, ela seria a primeira astronauta a tentar atingir A1689-zD1, a mais distante galáxia conhecida da humanidade, depois dela nada mais se sabia.

Estava preparada para uma longa viagem. No tempo terrestre a ida e volta durariam mais de 50 bilhões de anos, mas não era isso que a preocupava, já que no 4º milênio os seres humanos tinham se tornado quase imortais e viviam bem mais do que isso.

Ouviu o fim da contagem regressiva e partiu.

Ano terrestre 3045, 13 de março

Ellypticus One, o foguete de Rosalina acabara de ultrapassar a lua. Ela olhou pela janela e lembrou das músicas e dos poemas que conhecia sobre o satélite.

Ao longe reparou nas cidades que tinham sido construídas no mar da tranquilidade, tanta luz que, olhada da Terra, a lua se tornara cheia permanentemente.

Aumentou o som da cabine, mais uma música de Walton começara.

Ano terrestre 3045, 27 de julho

Prestes a sair da Via Láctea recebeu uma chamada de rádio.

Era o seu marido ligando pelo telefone interestelar para lhe dar os parabéns por mais um aniversário de casamento.

Naquele dia comemorava suas bodas de neodímio, 350 anos de casada, uma raridade. Os casais modernos não costumavam passar dos 100 anos.

Perguntou se ele estava cuidando direito da casa e recomendou que não esquecesse de buscá-la na base espacial quando voltasse.

Quando rompeu o limite da galáxia reparou que o relógio se ajustava para o calendário estelar.

Ano estelar 23.050

O calendário não apontava mais dias e meses, esse tipo de limitação era exclusiva dos terrestres, viajando quase à velocidade da luz não fazia o menor sentido pensar em horas.

Rosalina já passara por Andrômeda e rumava em direção ao aglomerado de Abell, o colorido se tornava cada vez mais intenso lembrando-a dos céus de Kirche.

Mesmo sozinha resolveu comemorar o momento, pegou uma das garrafas de água que tinha na geladeira (produto que tinha se tornado mais raro que champagne).

Ano estelar 37.271

As galáxias espirais ficaram para trás, já adentrada o circuito das elípticas, o destino da última viagem cósmica que batizara a sua nave.

Eram galáxias excêntricas, com estrelas muito antigas, pouca poeira (o que facilitava sua observação) e quase nenhum gás.

Sabia que, quando as ultrapassasse seria o primeiro ser humano a ir tão longe. O radar já marcava a presença de A1689-zD1 a apenas 2 milhões de anos-luz de distância.

Ano estelar 48.491

zD1, como Rosalina se referia carinhosamente ao seu destino estava visível a olho nu.

Ela cantarolava Carlos Gomes: "tão longe, de mim distante..." e se sentia recompensada pela sua conquista. Ao adentrar a galáxia reparou na quantidade imensa de gelo da qual era formada.

Lançou as sondas que mandariam informações de volta para a Terra, pediu autorização para um passeio fora da nave.

Quando voltou, encontrou um torpedo do marido no rádio-telefone : "You did it". Respondeu com um beijo e começou os preparativos para a volta.

Ano terrestre 54.312.713.001, 30 de maio

O pouso na base de The Golden foi macio e suave. Rosalina demorou um pouco para sair da nave, pois não queria enfrentar os jornalistas sem se maquiar e pintar as unhas.

Quando a porta da Ellypticus One abriu ela apareceu no topo da escada e olhou ao longe, nem reparou na multidão que a esperava no fim da escada.

No topo da torre do observatório ela viu o marido com um maço de flores brancas na mão e uma placa onde se lia: ida e volta!

Naquele momento, mais do que uma heroína, Rosalina sentiu-se uma princesa.

Comentários

Bel disse…
Vamos pensar juntos: Você não estaria sendo machista ao descrever essa viagem com tanta insanidade? Porque ter sucesso profissional a esse ponto, ir e voltar em 50 bilhões de anos, e ainda encontrar o marido à sua espera... é o sonho de consumo de qualquer mulher. Hahahahaha
(Me senti a própria Rosalina...)

Bjo, e uma segunda de primeira!
Bel disse…
Ops! Faltou algo muito importante: Onde se lê "Porque ter sucesso profissional a esse ponto, ir e voltar em 50 bilhões de anos, e ainda encontrar o marido à sua espera... é o sonho de consumo de qualquer mulher.", leia-se "Porque ter sucesso profissional a esse ponto, ir e voltar em 50 bilhões de anos, e ainda encontrar o marido à sua espera e aplaudindo... é o sonho de consumo de qualquer mulher."

;)
Como por aqui as meninas não são fãs de video games, foi uma honra conhecer Rosalina...rs

Beijos
Raquel disse…
Deve ser reflexo de ontem...juro que hoje,ainda não bebi...nada.
clau disse…
As melhores odisséias nao sao tanto aquelas reais, mas aquelas por onde passa o nosso pensamento e a nossa imaginação...
E apenas ultrapassando sol,quem sabe nos veremos aqui em casa, n"é?!

Combinemos isso, ok?
Veja com a Elsa qual noite dessas seria melhor e eu vejo se posso, e etc.
Bjs!

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Mais ditados impopulares